FALLING TREES Written By Paulo Viveiros 2012
FALLING TREES - solo show
ENGLISH VERSION
(translation by Mariana belo)
In the Black Forest of Nádia Duvall – The schizophrenia of Image
Painting is a state of being… self-discovery. Every good artist paints who they are.
Jackson Pollock
The quote above could be from Nádia Duvall herself, in addition to many other well-known sentences, recorded in radio interviews, from Jackson Pollock. By this I don’t mean to affirm Nádia as Pollock’s language heir, in the sense that Greenberg framed it, but some themes have indeed permeated, at the very least by the way that Nádia – and time – marked a difference, like the production of images in a horizontal plane (in her uterus-pool) and her classically vertical exhibition (image hung on a wall). The images on the wall create an effect of multiple images, because the media used for the web of membranes affords the membranes a simultaneous effect of textured relief and depth. This way, a membrane forms multiple images depending on the incidence of light: in the variety of tones and brightness at the surface, and in the shadows in depth that are projected onto the wall through the fabric of the work. We’re facing a schizophrenia of the image. And the twentieth century is one that allows itself to a clinical history of images: from the hysteria of the affirmation of painting as an autonomous from representation in the first vanguards, to the modern-day epilepsy (from scintillation to visual effects). Nádia Duvall has created a singular technique, almost visceral, that allows her to rip the images from the gut. This organic character rests on the background theme of this series entitled “Vestido Negro (Black Dress)” as a way of revelation of the unconscious. The membranes are those pieces that the unconscious lets loose, but also the remains of placentas. As Pollock said: “new needs need new techniques... The modern painter cannot express his age (...) in the old forms of the Renaissance... The modern painter is living in a mechanical age... working and expressing an inner world - in other words, expressing the energy, the motion, and other inner forms”. In Nádia Duvall’s work there’s an internal energy that expels images, which when exposed to light create a strange atmosphere like the one of the dark forest we can encounter in this exhibition. This path that the artist intuitively discovered when changing the membrane’s media (from canvas to fabric), is the unearthing of the ideal place where the membranes can rest to jolt us into consciousness. What is this place, mysterious, withdrawn from the glamour of light, in which the “exhibit hides itself”? Pollock’s generation was seen as socially unbalanced, according to North America’s conservative moral standards, a group of artists that struggled with alcoholism, that didn’t have children, that regularly consulted with psychiatrists, that had its share of suicides. This generation now turns into one without parents, adrift through a dark and dense universe, but doesn’t try to hide it anymore. Nádia Duvall’s exhibit is an allegory that exposes the unconscious in a raw manner, working as the counter-shot of a hygienic society that takes refuge in the surface of design. Here the atmosphere is heavy, moist, terrifying, like the tales of the Grimm brothers… And when you cross the bridge every ghost comes to meet you.
PORTUGUÊS
Na Floresta Negra de Nádia Duvall — a esquizofrenia da imagem
Pintar é um estado de espírito... auto-descoberta. Cada bom artista pinta o que ele é.
Jackson Pollock
A citação em epígrafe podia ser da Nádia Duvall. Também, muitas de outras célebres frases que conhecemos de Jackson Pollock, gravadas em entrevistas para a rádio. Com isso não quero afirmar que a obra de Nádia Duvall seja herdeira da "linguagem" de Pollock, no sentido que Greenberg a formulou, mas alguns temas transitaram, nem que seja pela forma como Nádia - e o tempo - marcou uma diferença, como a produção de imagens num plano horizontal (na piscina-útero) e a sua exposição vertical clássica (imagem pendurada na parede). As imagens na parede criam um efeito de múltiplas imagens, porque o suporte de rede confere às membranas um efeito simultâneo de relevo e profundidade. Perante isto uma membrana forma várias imagens consoante a incidência da luz: nas diferentes tonalidades e brilho à superfície e nas sombras em profundidade que se projectam na parede através do tecido do suporte. Estamos perante uma esquizofrenia da imagem. E o século XX é aquele que se presta a uma história clínica das imagens: desde a histeria da afirmação da pintura enquanto autónoma da representação nas primeiras vanguardas, até à epilepsia actual (da cintilação aos efeitos visuais). Nádia Duvall criou uma técnica singular que lhe permite arrancar as imagens das entranhas, quase visceral. Esse carácter orgânico assenta no tema de fundo desta série do “Vestido Negro” como uma forma de revelação do inconsciente. As membranas são esses pedaços que o inconsciente solta, mas também restos de placentas. Como Pollock dizia: "new needs need new techniques... The modern painter cannot express his age (...) in the old forms of the Renaissance... The modern painter is living in a mechanical age... working and expressing an inner world - in other words, expressing the energy, the motion, and other inner forms”. Há no trabalho de Nádia Duvall uma energia interna que expulsa imagens, que uma vez expostas à luz criam uma atmosfera estranha como é o desta floresta negra que podemos encontrar nesta exposição. Esse caminho que a artista intituitivamente descobriu quando mudou o suporte das membranas (da tela ao tecido), é a descoberta do local ideal onde as membranas podem repousar para nos atiçar a consciência. Que local é este, misterioso, afastado do glamour da luz, em que esta “exposição se esconde”? A geração de Pollock foi vista como socialmente desequilibrada aos padrões da moral conservadora norte-americana, um conjunto de artistas que teve problemas de alcoolismo, que não tiveram filhos, que consultavam regularmente psiquiatras, que teve casos de suicídio, inverte-se agora numa geração sem pais, à deriva por um universo denso e negro e que não esconde mais isso. A exposição de Nádia Duvall é uma alegoria que expõe cruamente o inconsciente, que é o contracampo de uma sociedade higiénica que se refugia na superfície do design. Aqui a atmosfera é pesada, húmida, aterradora como nos contos dos irmãos Grimm.... E quando se atravessa a ponte todos os fantasmas vêm ao nosso encontro.